sexta-feira, 2 de março de 2012

Em história não verdades absolutas, a cada novo vestígio uma nova história.

A pintura mais antiga do mundo

Arqueólogos encontram desenhos rupestres em caverna espanhola que teriam 42 mil anos e seriam obra do homem de Neandertal

João Loes

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PASSADO
As pinturas encontradas na caverna de Nerja foram feitas em estalactites
Era difícil imaginar que uma rede de cavernas como a de Nerja, no sul da Espanha, conhecida, estudada e visitada por milhares de pessoas há mais de meio século, ainda teria segredos a revelar. Mas foi isso que aconteceu. Um grupo de arqueólogos da Universidade de Córdoba, na Espanha, divulgou recentemente imagens impressionantes de estalactites dentro da cavidade cobertas por seis pinturas rupestres, até então desconhecidas, com idade estimada em 42,5 mil anos.

A datação não só faz delas as pinturas mais antigas do mundo – dez mil anos mais antigas do que a atual recordista, nas cavernas de Chauvet, na França – como permite supor que elas tenham sido feitas por homens de Neandertal, e não pelo Homo sapiens. “É uma descoberta que cai como uma bomba para os acadêmicos que estudam essa área”, diz José Luis Sanchidrian, responsável pela equipe da Universidade de Córdoba que fez a descoberta. Poucos, na academia, acreditam que o homem de Neandertal, extinto há 30 mil anos, tinha capacidade intelectual para criar e registrar representações simbólicas da realidade como as pinturas descobertas em Nerja.

Agora, porém, isso pode começar a mudar. Para reforçar a suspeita de que as pinturas foram de fato feitas pelos neandertais, os objetos marcados na pedra se parecem, em muito, com focas. E sabe-se, pelo conjunto de registros fósseis, que, diferentemente do Homo sapiens, o homem de Neandertal se alimentava de focas. “Se o que a gente viu até agora se confirmar, realmente será uma descoberta inquietante”, diz o geógrafo Felipe Carvalho, diretor de pesquisa do Grupo Guano Speleo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que estuda a formação e constituição de grutas e cavernas.

Ele faz a ressalva por que, dado o potencial revolucionário da descoberta, muito ainda será questionado sobre ela. O método de datação da pintura, por exemplo, feito a partir de material orgânico encontrado nas proximidades da obra é comum, mas levanta dúvidas. O fato de a pintura não ter distorções mesmo tendo sido feita em uma estalactite, que costuma variar de forma e tamanho com o passar do tempo, também deixa interrogações. “No fim, só teremos certeza com a datação final da tinta que foi usada e a publicação dos resultados em um artigo científico”, diz Carvalho. Isso pode levar de dias a semanas. Até lá, o frisson permanece.  
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